Eu não ganho nada a escrever para ti. Se alguém me pagasse um cêntimo
por cada linha que contém os teus traços, acredita eu estaria milionária. O
problema é que eu não ganho nada e, ainda assim, cismo em escrever para ti, por ti. Não importa quantos parágrafos eu digite ou quantas estrofes eu
rabisque no papel, nunca, nada vai ter o tamanho e a intensidade do que
eu te quero dizer. Nenhuma frase tem tanta ênfase na dor que eu quero
expressar. Vê só, escrever não me deixa menos infeliz ou com mais
vontade de viver. Escrever não te coloca novamente do meu lado. Mas, de certa forma, é a escrever que eu encontro um pouco de conforto em dias tão vazios longe de ti.
Talvez não seja as pontas dos meus dedos que te redigem, talvez sejas tu quem transforma as pontas dos meus dedos. Analisa com atenção as
palavras que cospem da minha boca e as que saltam no papel, todas elas
contém um pouco de tu, do que éramos, do que tínhamos, do que fomos,
de nós dois. Não importa se é sobre os teus olhos castanho -mel, sobre o
seu cabelo castanho encaracolado ou sobre os teus lábios grossos. Todos os meus
textos disfarçados em versos, todas as minhas poesias camufladas em
texto e todos os meus poemas com alma de frase são sobre ti. Eu juro
que tento, de verdade, escrever sobre qualquer outra coisa ou agarrar
qualquer pensamento que não envolva o teu cheiro, o teu caminhar e
a tua gargalhada, mas é impossível. Se falo sobre o céu, diretamente
também falo sobre como era bom passar as tardes a ver a tua perfeição. Se rio de uma piada,
automaticamente penso em como eu gostaria de contar ela para ti e ver o teu sorriso esbranquiçados. Percebes o tamanho
da ironia? Eu não quero escrever, pensar ou falar de ti, mas de certa
forma aqui estou eu.
Às vezes as palavras fluem com o batimento do coração.
Amor quietinho, que não exige palco e nem plateia. Amor simples. Amor
que não cabe no verbo amar
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